Juliana, um jovens senhora senhora da comunidade de forquilha, município de Caetité, é hoje a única pessoa que ainda mantém viva a arte e memória patrimonial do trançado em cipós e palhas na produção de bens imateriais" bens intangíveis", Salvaguardando a memória imaterial do nosso território.Juliana, mulher forte guerreira, nordestina e caetiteense , memória personalizada de varias gerações.
O
trançado, originalmente, era feito a partir de
um contato muito próximo com a natureza. Desde
o simples ato de colher as fibras, respeitando sua lua
e sua época correta de colheita, ao uso que era
feito do trançado.
No
Brasil, existe uma grande variedade de fibras como ouricuri,
embira, carnaúba, taquara, babaçu, bananeira,
taboa, cipó, etc. Depois de colhidas, essas fibras
passavam por um longo processo de tratamento, que era
feito com cinzas, e a fibra era batida repetidamente.
Hoje, o processo tornou-se diferente, bate-se a fibra
no liquidificador e ferve-se com soda cáustica,
o que facilita e agiliza o trabalho, mas que também
provoca mudanças na maneira de encarar o fazer.
Depois
desse tratamento inicial, elas podem ou não ser
tingidas, geralmente com corantes naturais que são
normalmente encontrados na cor preta, vermelha e em vários
amarelos. Hoje em dia, podemos utilizar corantes artificiais.
Então
a fibra agora está pronta para o trançado.
Esse possui uma infinidade de técnicas e são
usados para fazer os mais diversos tipos de objetos como
chapéus, esteiras, espanadores, cestas de todas
a espécie, redes, miniaturas, etc.
Origem
e contextualização:
No
Brasil, o trançado surge em todas as tribos indígenas
por sua acessibilidade e abundância de matéria
prima. É uma área de grande importância
histórica e cultural do nosso país. Ele
assume formas que narram as lendas dos nossos mitos originais
e contam a história das tribos indígenas.
O ato de trançar uma fibra está profundamente
ligado à trama do destino e à história
dos homens. Quem faz o trançado está, de
certa forma, criando uma história.
Para
os índios, o fato do trançado estar intrinsecamente
ligado à sua utilidade não diminui seu valor
simbólico e narrativo. Para eles forma (beleza),
utilidade e sacralidade estavam intrinsecamente ligados.
O sublime estava muito ligado ao cotidiano. A arte e o
artefato, em quase todas as épocas, foram a mesma
coisa. A separação entre elas é coisa
recente inventada pelo homem branco.
Os
objetos produzidos por uma cultura podem falar muito sobre
ela. A diferença básica na produção
de utilitários dos índios para a nossa é
que eles faziam tudo com as próprias mãos.
A fibra era colhida, tratada com cinzas, surrada, finamente
trançada, ornamentada, sempre fibra por fibra.
Cada objeto é feito como único, sendo assim,
um objeto que exige um tratamento tão trabalhoso
e individual só pode culminar impregnado das mãos
de quem o trançou, que por sua vez está
impregnado de sua cultura. Numa tribo indígena,
a noção de coletividade é muito maior
e mais significativa do que a que conhecemos em nossa
sociedade. Mesmo por uma forte busca da sobrevivência,
o indivíduo só é fraco e impotente,
ele só se torna um indivíduo na sua totalidade
se estiver intrinsecamente ligado a uma coletividade.
O pensamento individual e o pensamento coletivo unidos.
Uma obra de arte, que normalmente tem seu uso utilitário,
nem sempre é feita inteiramente por uma pessoa,
mas em nome da tribo e geralmente por um grupo.
Para
compreendermos o quanto um utilitário fala de uma
cultura vejamos nossos utensílios diários,
feitos em série, padronizados e geralmente pouco
duráveis, enfim, superficiais. Nossos utilitários
também não descreveriam nossa cultura?
O
Trançado hoje:
O
trançado, e em geral, todo tipo de artesanato, na
sua origem era feito apenas como um objeto utilitário,
passando mais tarde para objetos decorativos. No começo
esses objetos decorativos (seriam arte?) eram feitos individualmente
ou em famílias, o que permitia sempre mudanças
e uma liberdade de criação, os artesãos
não estavam presos a moldes pré determinados.
Com a chegada do capitalismo, e tendo este se infiltrado
cada vez mais na vida dessas pessoas, o que aconteceu foi
que, para que os artesãos pudessem lucrar mais resolveram
se organizar. Iam todos para grandes galpões, elegiam
um líder. Essas mudanças afetaram profundamente
a produção de cestos, pois o que antes era
um trabalho autônomo, feito com muito prazer, agora
é um trabalho institucionalizado, além disso,
os artesãos, passaram apenas a copiar modelos pré
determinados pela quantidade de venda e lucro que este ou
aquele pode gerar. De artesãos passaram a meros reprodutores.
A
cestaria, mesmo sendo ainda feita em grande escala no Brasil,
sofreu também muitas mudanças nos seus métodos.
Uma arte tão minuciosa não teria como sobreviver
intacta tendo que competir com produtos industrializados,
que são feitos em série e por grandes empresas,
que acabam saindo muito mais baratos e fabricados com muito
mais facilidade. Tudo isso fez com que essa arte fosse extremamente
desvalorizada.
Trançado
na Arte Contemporânea:
É
realmente muito difícil encontrar artistas que trabalhem,
hoje, com trançado. Encontramos muito mais exemplares
no artesanato. Podemos perceber que existe um forte preconceito
com esse tipo de trabalho, a busca desesperada dos artistas
contemporâneos por um linguagem inovadora muitas vezes
não inclui o que chamamos de artes menores, no caso,
o trançado, a não ser nos meios específicos,
como na Bienal de Lausanne - Suiça, aonde são
reunidos representantes de artistas que trabalham com fribra
em geral. A recorrência de artistas plásticos
que trabalham com trançado é muito mais forte
nos anos oitenta para baixo. Na arte contemporânea
não existe muito lugar para técnicas tão
complexas e arcaicas. É necessário inovar
para disputar a incrível briga do mercado de trabalho.
No
Brasil, encontramos poucos artistas dessa área, provavelmente
existem muitos, mas não são muito divulgados.
Maravilhoso. É uma arte que me encanta. Parabéns a essa magnifica artesã que mantém viva essa técnica fantástica.
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